quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Morador de rua


Oi, meu nome é ninguém, tenho mais idade do que pretendo e menos do que aparento. Moro em um lugar qualquer, onde der pra dormir eu deito; preciso descansar, amanhã é um longo dia, terei que pedir dinheiro para me alimentar e alimentar o meu cão; ele é a unica coisa que me sobrou do que eu era.

Nunca pensei que um dia a minha expectativa de vida se tornaria viver o hoje e esperar que morresse de frio ou fome enquanto durmo durante a madrugada; isso acontece com mais frequência do que se imagina aqui.

Conheci muita gente que perdeu tudo como eu, outros nunca tiveram nada. Vago pelas ruas e ninguém me enxerga; poucos param e me ajudam a me levantar. Muitos sentem nojo de mim, porque minhas roupas são sujas e rasgadas; já não uso mais sapatos, o ultimo sumiu quando acordei e todos os outros vendi para sobreviver.

Aprendi da pior forma que tudo que vai, volta.

Sempre achei que esses mendigos eram um bando de sem vergonha que deveriam morrer queimados; hoje percebo que eles são mais transparentes do que as víboras das quais um dia já fui patrão. Eles são simples, simpáticos, guerreiros e assistentes; sempre quando me falta o que comer, eles dividem o que conseguem comigo e eu por minha vez divido com o meu cãozinho, Bob. As vezes eu tenho dó dele, ele deve sentir falta de todos os brinquedos que ele tinha, mas não pode reclamar de falta de atenção.

Hoje sentado na grama da praça, ele me lambeu e chorou, queria poder entender o que ele dizia, mas quando vi um pouco mais a diante pude entender. Lá estava minha criadora, passeando com seus netos (aqueles que a justiça tirou de mim). O lanche deles parecia bom; meu menino me viu, tentei desviar o olhar, mas ele já estava gritando e correndo em minha direção. Minha mãe tentou impedir, mas então ela me observou e começou a chorar.

Andei em sua direção e naquele momento muitas coisas passavam por dentro de minha mente, meu coração batia forte, meu menino me agarrou e disse tudo que eu mais precisava ouvir. Eu também senti sua falta meu menino, eu queria poder dizer, mas as lágrimas me mantinham calado.

Mamãe pediu que eu me aproximasse e me sentei ao lado dela, quando ela abriu os braços e me deitei em seu colo, já estava soluçando. Ficamos todos em silêncio, o sol foi caindo e surgia no céu uma lua linda e muitas estrelas. Mamãe se levantou e com toda a classe que só ela tem disse 'Venha, vamos para a casa' Bob entendeu o recado e latiu, tentei argumentar; fui um filho muito imprestável e rude; e ela sempre tão generosa estava me perdoando e de coração pelo mostro que já fui. Então ela sorriu, estendeu a mão e me disse 'a vida te ensinou o que você precisava aprender, não cabe mais a mim te castigar, meu filho'. Levantei-me e nossos dedos se entrelaçaram, caminhamos... Diferente do caminhar que eu estava acostumado há alguns meses, agora eu sabia o destino de cada passo.

Morador de rua: Nem todos tem um final feliz, think about.

Nenhum comentário:

Postar um comentário